Daniel Dias
O que os documentários da Netflix, “Privacidade hackeada”, “ O dilema das redes”, e a entrevista de Julian Assange para “Carta Maior” tem em comum ? Todos buscam de alguma forma demonstrar o que ocorre dentro das maiores redes sociais, como Facebook, Twitter, Instagram e até mesmo o próprio Google, a forma como buscam prender seus “ clientes”, entre aspas nesse momento pelo que se apresentará no futuro do texto, e também a maneira fácil a internet em si pode ser manipulada a favor de determinada empresa, pessoa , grupo político e etc.
Inicio apresentando a ideia básica de “Privacidade hackeada” de Jehane Noujaim e Karim Amer,o documentário busca mostrar o processo que David Carroll, um professor universitário, aplicou contra a empresa Cambridge Analytica por violação de privacidade, porém ao realizar isso, repara que essa situação é somente a ponta do iceberg e que por trás da empresa existem diversos outros escândalos, como o auxílio na eleição americana de 2016 e o próprio BREXIT. A partir desse momento somos apresentados a Brittany Kaiser, ex-funcionária da Cambridge e que explica de forma complexa mas compreensível como a empresa de forma discreta influenciou através das redes sociais a decisão de milhares de pessoas a favor de políticos que as contratava, focando, principalmente no Facebook.
Com o decorrer do filme, entendemos que, basicamente, a empresa comandada na época por Alexander Nix, buscava através do Facebook, influenciar pessoas que ainda não tinham decidido sobre seu voto, a votar a favor de Donald Trump, eles criavam pesquisas sobre a personalidade da pessoa, e a partir daí começavam a investigar mais a fundo a vida do indivíduo e de sua “bolha” usando dos tais dados de usuarios que Carroll buscava reconquistar. Quando, finalmente, tinham o perfil dessa pessoa, começavam de forma sutil a persuadir , apresentavam páginas que tivessem características de um eleitor de Trump, perfis de pessoas que votariam no mesmo e assim por seguinte, o segundo estágio era fazer ela mesma procurar mais sobre o assunto, entrando em grupos, vendo posts que na época difamavam com notícias enganosas a candidata Hillary Clinton e o último passo era a própria pessoa compartilhar essas notícias. Dessa forma a empresa conquistou milhares de votos para o atual presidente americano, porém não somente isso, eles eram capazes de com apenas algumas informações de determinada pessoa, causar guerras civis, protestos hostis entre outras situações, pois quando o indivíduo está preso na bolha que criaram para ele, é impossível sair , já que aquela se torna a sua verdade, pois não é mais apresentada para o outro lado da moeda. Exemplos dessas utilizações foram as eleições americanas de 2016, o BREXIT e o movimento “DO SO” de Trinidad e Tobago. Somos manipulados sobre questões essenciais para humanidade de formas que nem percebemos, deixamos de ser o cliente e nos tornamos o produto, por isso a contradição dita no início do texto.
E é aqui que o “Dilema das redes” entra, eles apresentam de forma mais simplificada como nos tornamos meros viciados e produtos de grandes bilionários tecnológicos. Aqui o foco não é somente o Facebook , mas sim , todas as redes sociais, o documentário busca explicar tudo isso através de uma família americana, onde cada um de seus membros é influenciado por alguma rede, o pai pelo Facebook, a filha mais nova pelo o Instagram e seus likes, enquanto o filho pelos milhares de vídeos que o YouTube sugere para ele, após a realização de uma mera pesquisa. Além disso colocam diversos ex-funcionários dessas empresas bilionárias para contar as situações que já presenciaram e como lidam com elas no seu dia-a-dia, por exemplo, o ex-presidente da Pinterest,Tim Kendall, diz que proíbe a filha de usar o celular e internet, irônico, certo? A pessoa que trabalha a favor da internet, impedir alguém de sua família a utilizar. Na realidade não, pois ele sabe como funciona esse meio, como as empresas utilizam de todos os indivíduos do globo , a favor do ganho de capital próprio, não se importando com idade, situação financeira, localização, raça , com simplesmente nada, eles só querem vender o seu produto, que no caso é você, não somos mais nós os clientes que estão acessando uma rede social para se divertir, buscar conhecimento e etc, agora somos o produto vendido pela tecnologia, para outras empresas , através da apresentação de propagandas, notícias falsas para favorecer determinado candidato político ou simplesmente para enfraquecer uma nação, colocando uns contra os outros, pois agora não se escutam mais, já que como dito antes cada um está em sua própria bolha formada por essas redes sociais.
Como o documentário nos apresenta somos meros zumbis agora, que não conseguem viver sem seu celular, como demonstra a cena em que a filha mais nova da família quebra o cofre somente para ter o aparelho de volta. Todos no globo , provavelmente, vão dizer que poderiam ficar sem seus aparelhos telefônicos por dias, semanas e quem sabe meses, como no filme também é apresentado, mas é, simplesmente, impossível, no momento em que nos desconectamos desse meio, também nos desconectamos do mundo, pois agora tudo envolve a internet, para ter notícias de forma rápida , se conectar com amigos, comunicar com outras pessoas, tudo de certa forma virou uma dependência. Nesse momento entra a frase de Edward Tufte apresentada no documentário, “ Existem apenas duas indústrias que chama seus clientes de usuários: a de drogas e a de software”, será que isso é mera coincidência? Provavelmente não, pois ambas causam vícios que se não tratados e controlados, podem se tornar um dos maiores perigos da vida. As consequências disso são várias , o exemplo do filme sobre o YouTube, é perfeito, após assistir um simples vídeo sobre determinado assunto, você é bombardeado com mais e mais, de forma incessante , até o momento em que começa a realmente acreditar naquilo. Por exemplo, imagine uma pessoa que é apresentada a uma teoria terraplanista, a um primeiro momento ela provavelmente irá rir dos absurdos apresentados ali, porém ela será apresentada a muitas outras informações sobre isso, o que em algum momento pode fazer com que a mesma acredite que aquilo é a realidade, e é nesse momento que se inicia mais um exemplo de “bolha”, que tanto cito.
Para finalizar, temos a entrevista do Julian Assange, que traz uma comparação da sociedade e a internet, com um sistema nervoso, que nos últimos anos vem sofrendo com o que considero nessa linha de raciocínio dele como um vírus, ou até mesmo o próprio Coronavírus, que ainda não sabemos como combater , ou não queremos aprender. O fato é que a internet e as redes sociais ligam toda a civilização mundial, porém algo está no comando disso, na realidade países, principalmente o Estados Unidos, esse que através de ferramentas como Facebook e Google, que possuem suas sedes em território norte americano, podem se apossar dos dados de milhares de pessoas de outros países somente através de redes sociais que em tese parecem inofensivas, mas que no fundo acumulam dados e dados, como já dito acima no ensaio, no fim esses dados, vão parar em Agências de Seguranças Nacionais, que a partir daí fazem o que quiserem com os mesmos , a favor de um lado capitalista, ou até mesmo político, como já vimos a Rússia fazendo nas eleições americanas de 2016.
Após trazer uma síntese e resenha de cada um dos documentários e entrevista, levanto algumas questões e debates sobre os assuntos em gerais apresentados. O primeiro levantamento que faço é em questão de quantos dos nosso dados pessoais estão rodando pelo globo? Quantos deles já caíram em mãos de hackers e Agências de Segurança Nacionais? Mesmo que eles nunca sejam utilizados por essas pessoas para atos criminosos, é algo assustador de se pensar, informações nossas como RG, CPF e número de cartões estão nas mãos de pessoas que desconhecemos. E como Assange disse, existem países que possuem o monopólio dessas redes, sendo o principal deles o EUA, o país que comanda o globo terrestre em questão economia, política e em poderio ofensivo, e que de tempos para cá também possuem informações de diversas outras pessoas do mundo, não importando seu país.
A segunda questão é sobre uma contradição que a Netflix me passou após assistir os documentários, principalmente “O dilema das redes”, durante a produção o YouTube é criticado por fazer sugestões para seus usuários do que a empresa quer e para quem eles quiserem, manipulando essas pessoas de forma discreta. Porém logo quando o documentário da Netflix acaba, a empresa sugere diversos outros títulos baseados no que você assistiu, portanto de certa forma também induzem as pessoas a acreditar no que é passado nessas produções. Entretanto isso é o capitalismo, todos tem que vender seu produto, no entanto deve ser feito da forma correta, sem corromper e viciar as pessoas que o compram e assistem. E para aqueles que falam que não são facilmente manipulados, sempre duvidem e pesquisem, pois de alguma forma você está sendo levado a acreditar e seguir certo caminho, mesmo que da forma mais sútil possível.
Finalizo agora com uma questão política, a partir de tudo que foi visto nas produções audiovisuais e nas eleições americanas e brasileiras de 2016 e 2018 respectivamente. Será que é realmente necessário os candidatos terem um ótimo e convincente plano governamental? Ou somente ter uma equipe que trabalha bem nas redes sociais, espalhando desinformações, ofendendo seus canditados como a Cambridge Analytica fez na campanha de Trump? Literalmente não é mais necessário se preocupar com o que “você” como candidato apresenta para os eleitores, mas sim apresentar fatos verdadeiros ou não contra seus oponentes. A democracia mundial está perdida, muito por conta de como as redes possibilitam esse compartilhamento de desinformações, cabendo a essas grande empresas em conjunto com jornalistas acharem formas de evitar tudo isso, seja com leis, avisos de que determinada notícia é falsa, ensino sobre fake news, entre outras formas, pois mesmo que tudo isso não tenha sido previsto quando as redes sociais foram criados como é dito no documentário “ O dilema das redes”, sempre temos que saber que tudo pode ser utilizado para outros fins, e conforme determinada coisa evolui, nesse caso as redes, a segurança nelas também deve evoluir e se fortalecer.