DOIS ANOS DE LAMA E SANGUE

Vitor Augusto L. Camacho

Por Vitor Augusto L. Camacho é Geógrafo (UNESP), Técnico Florestal, Esp. em Geotecnologias e Mestrando em Ciências Ambientais (UFSCar). Realiza pesquisas com os seguintes temas sobre espaço urbano, meio ambiente, geotecnologias, geopolítica, cartografias e políticas públicas.
contato: vitorluizaricamacho@gmail.com

No último dia 25 de janeiro, um dos maiores crimes socioambientais do Brasil completou 2 anos, fato que ocorreu em 2019 ceifou 270 vidas e 11 vítimas ainda seguem desaparecidas, as consequências continuam devastadoras para o meio ambiente e a sociedade. O grande responsável é a atual empresa de capital privado VALE S.A, fundada em 1942 pelo então presidente Getúlio Vargas e que foi privatizada em 1997 – durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso.

A história da privatização da VALE S.A. foi controversa por não ter levado em conta o valor potencial das reservas de minérios em possessão da companhia na época, apenas o valor de sua infraestrutura. Contudo houve um contexto político, histórico e econômico para que tal decisão fosse tomada, pois desde os fins da década de 1970, o mundo passou a seguir a corrente de pensamento econômica neoliberal, e consequentemente o FMI criou um conjunto de normas, conhecido como o Consenso de Washington, que defendia a privatização de todas as empresas estatais, indiscriminadamente, como uma fórmula que deveria acelerar o desenvolvimento econômico mundial.

As privatizações frequentemente têm objetivos políticos e consequências, que aos moldes brasileiros acumulam os ganhos e redistribuem os prejuízos. Em 2016 o FMI admitiu em relatório o fracasso das políticas neoliberais incentivadas anteriormente. Tão polêmica tornou-se o período de privatizações no Brasil que o jornalista Elio Gaspari apelidou essa operação de privataria, criando um neologismo.

Consequências que perduram

De acordo com o Aedas (Associação Estadual de Defesa Social e Ambiental) e o Instituto Guacuay, assessorias técnicas que acompanham os atingidos pelos rejeitos da barragem, as dezenas de milhares de pessoas não reconhecidas pela VALE também têm direito à reparação, embora tenham sido desconsideradas no critério estabelecido pela mineradora

Ao menos 52 mil moradores de outras 26 cidades ainda lutam na Justiça para provar que também foram afetados pelo estouro do reservatório de rejeitos de mineração e 2 anos após o crime, quatro cidades do entorno de Brumadinho ainda sofrem com impactos.

  • Falta água para beber (menos de 40% das famílias atingidas têm regularidade no abastecimento de água)
  • Renda (62,51% dos atingidos não exercem nenhum tipo de atividade remunerada em Betim, Juatuba, Mário Campos e São Joaquim de Bicas)

Os relatos indicam que o derramamento da lama mudou a rotina destas pessoas deixadas de fora do acordo, provocando perda de renda, doenças de pele, além de ter afetado a vida de comunidades indígenas, quilombolas, pescadores, pequenos comerciantes e agricultores que vivem em municípios cortados pelo Rio Paraopeba, atingido pela onda, e do entorno da represa de Três Marias, onde o curso d’água chega ao seu fim.

Na sociedade capitalista os processos de desastres ambientais se expressam de distintas formas. O próprio modo de produção capitalista tem os fomentados em razão, por exemplo, da elevada e destrutiva expropriação dos recursos naturais renováveis e não renováveis, e dos perfis de empreendimentos altamente poluidores/de risco.

A privatização da VALE foi um banquete da especulação financeira, os grupos mais interessados em saquear o Brasil se sentaram à mesa para compartilhar o banquete sendo ninguém estava minimamente interessado em trazer investimentos e infraestruturas de boa qualidade para o país. Conclusão, hoje a VALE é uma empresa baseada na lógica financista, seus objetivos são unicamente pautados no mercado de ações. E ainda conta com um governo que tem como bandeira AFROUXAR OS CONTROLES AMBIENTAIS.

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